Deficientes lutam para vencer o preconceito em Pernambuco.


Pernambuco possui 1,3 milhão de portadores de deficiência

Atividades rotineiras, como utilizar transportes coletivos, ler o cardápio de um restaurante e ir à escola, que parecem tão simples, podem ser um desafio para os portadores de deficiência física, mental ou sensorial. Em Pernambuco, segundo o Censo 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há 1,3 milhão de pessoas deficientes, representando 17,4% da população. Mesmo assim, eles precisam enfrentar, além da falta de infra-estrutura, o preconceito e a subestimação de grande parte da sociedade, que os exclui e os desestimula.

  "Os dados do Censo vão estimular as pessoas a exigir das autoridades uma postura mais decidida para melhorar a qualidade de vida dos deficientes", argumenta Manuel Aguiar, superintendente da Superintendência Estadual de Apoio a Pessoas com Deficiência (Sead) e portador de deficiência visual desde os 9 anos. Em uma cidade como Recife, o simples fato de andar pelas ruas já é uma grande aventura, com os diversos desníveis e buracos nas calçadas, falta de rampas, alémda falta de adequação dos transportes públicos.   

No Estado, existem cerca de 164 mil portadores de deficiência na faixa dos 5 aos 17 anos. De acordo com o Censo Escolar 2002 da Secretaria Estadual de Educação e Cultura, somente cerca de 15 mil alunos deficientes estão matriculados em escolas, sendo 10 mil na rede estadual e 5 mil em colégios particulares, o que significa que apenas 9% deles têm acesso aos estudos.

  A diretora da Coordenadoria Municipal para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (Acorde), Gorete de Godoy, diz que falta à sociedade tolerância para deixar que os deficientes mostrem-se aptos à convivência social. "Ela cria argumentos para excluí-los, ao invés de incluí-los!", ressalta.

Mesmo com as dificuldades e o preconceito, existem os que encontram força de vontade para enfrentar os obstáculos.Força de vontade é o que não falta ao nadador pernambucano Luís Silva, 21 anos. Integrante da Seleção Brasileira , ele mostrou que o fato de ser portador de deficiência físicanão é páreo para sua determinação e vontade de vencer. Treinado pelo técnico Manoel de Souza, da AABB, Luís conquistou 3 medalhas de prata e uma de bronze nas Para-olimpíadas de Sydney, em 2000.

  Apesar de ter conquistado prêmios, com patrocínio do Governo do Estado, e ser um exemplo de perseverança, Luís faz questão de ressaltar que tem sorte por ter pernas mecânicas. "A maior parte dos meus amigos anda de cadeira de rodas", comenta, ressaltando que também passa por problemas. "Recentemente, estava no banco e fui barrado pelo detector de metais. Foi constrangedor", conta.

  A prática de esportes é um excelente meio para interação com a sociedade. "Além de levar os atletas a superar limites e se sentir confiantes, os esportes aumentam a auto-estima e diminuem o preconceito e exclusão social", justifica a psicóloga Maria Cecília Leite.

ASSISTÊNCIA - O Projeto Horizonte, desenvolvido pelo Departamento de Pedagogia da Unicap, presta assistência a crianças e adolescentes com deficiência mental ou dificuldade de aprendizado. Coordenado pela pedagoga Tânia Nery, o trabalho é realizado com a ajuda de programas educativos no computador, estimulando os alunos de acordo com suas necessidades.  

No Interior, a assistência aos deficientes é ainda mais difícil do que na Região Metropolitana do Recife. A Associação dos Portadores de Deficiência de Caruaru (Apodec) é um exemplo de instituição filantrópica que enfrenta falta de recursos. A associação atende pessoas do município e cidades vizinhas e tenta cobrar das autoridades o cumprimento das leis. Entre elas, a que determina que 5 a 10% da frota de ônibus municipal sejam adaptadas aos deficientes.

  Iniciativas individuais também fazem diferença. A pedagoga Sylvia Farias dedica sua vida aos deficientes. Ex-estagiária do Projeto Horizonte, atualmente participa de trabalho com jovens deficientes auditivos, na Escola Monsenhor Francisco Sales. "A maior dificuldade enfrentada pelos deficientes é realmente a discriminação, que se deve principalmente à falta de informação da sociedade. Eles devem ser tratados como pessoas normais, que é o que são", afirma Sylvia.

   O psicólogo Sérgio Sá diz que o tratamento dado aos deficientes é errado até por parte de algumas famílias. "A superproteção só faz com que o preconceito e a insegurança aumentem. O papel da família é fazer com que o portador de deficiência se desenvolva física e mentalmente, para que venha a se transformar em um cidadão independente e seguro de seu potencial", explica Sérgio.