Paratriatleta americano vem ao Brasil para participar de ultramaratona. |
O paratriatleta norte-americano Andre Kajlich, 33, será o primeiro cadeirante a participar da ultramaratona em trilha Brazil 135 Que tem um percurso de 217 quilômetros na serra da Mantiqueira e começa hoje em São João da Boa Vista (SP), e vai até domingo. O paratriatleta norte-americano Andre Kajlich, 33, será o primeiro cadeirante a participar da ultramaratona em trilha Brazil 135, que tem um percurso de 217 quilômetros na serra da Mantiqueira e começa hoje em São João da Boa Vista (SP), e vai até domingo. Atropelado por um trem no metrô de Praga na manhã de 7 de dezembro de 2003, ele perdeu a perna esquerda e teve a direita amputada pouco acima do joelho. Confira abaixo o relato do paratriatleta Foi numa madrugada de dezembro de 2003, eu tinha 24 anos. Recebi meus amigos em casa, em Praga, onde eu estudava química. Fiz burritos para a turma e depois fomos para a balada, ficamos na rua a noite toda. Finalmente nos despedimos, disse tchau para um amigo e acordei três semanas depois, em uma cama de um hospital, sem as duas pernas. Ninguém sabe exatamente o que aconteceu. Eu tinha caído nos trilhos do metrô, o condutor me viu, mas não pôde fazer nada. Um trem inteiro passou por cima de mim. Quando me tiraram dos trilhos, eu estava praticamente morto, sem pressão. Mesmo assim, eles foram capazes de me salvar. Quebrei um braço, várias costelas, tive os pulmões perfurados, o fígado foi atingido. Perdi toda a perna esquerda, não sobrou nada, e a direita foi amputada acima do joelho. Antes do acidente, eu praticava esportes para me divertir. Gostava de futebol, golfe, esqui, snowboarding, windsurf. Adorava experimentar coisas novas. Depois, fiz um trabalho de reabilitação e consegui voltar a ter vida social, estudar --completei o curso em Praga. Em 2008, já de volta aos EUA, me falaram do triatlo e eu participei de uma prova de revezamento. Foi muito bom sentir o coração batendo forte novamente. Fui em frente. Eu não corro. Com esse nível de amputação, andar já é incrivelmente difícil. Correr, esqueça. No triatlo, não uso a prótese na natação, os braços fazem força e carregam o resto do corpo. Em geral, nas competições bem organizadas, quando a gente sai da água há dois homens que nos pegam e colocam em uma cadeira de rodas comum. Com ela, vou até a área de transição e pego a bicicleta em que a gente "pedala" com as mãos. A terceira parte faço na cadeira de rodas de corrida. Passei a treinar e consegui me classificar para competir no Ironman de Kona, no Havaí, o mais importante do mundo. São 3.800 m de natação, 180 km de bicicleta (no meu caso, bicicleta de mão) e uma maratona (42,145 km), na cadeira de rodas de corrida. Também participei do Mundial de triatlo, em Pequim. Fui prata. Com as conquistas, hoje tenho alguns apoiadores. No início, eram só a família e os amigos. É tudo muito caro: só as próteses que uso custam mais de US$ 100 mil (mais de R$ 200 mil). Eu ouvi falar da Brazil 135 em um programa de rádio, nos EUA, e fiquei curioso. Será minha primeira corrida em trilha, não sei o que pode acontecer. Fiz alguns treinos em montanhas nos EUA, em neve, gelo e barro, e me saí bem com essa cadeira especial que montamos. Basicamente, as rodas de trás são de mountain bike e a roda da frente é de uma bicicleta infantil. O que me preocupa são as montanhas. Há trechos curtos muito íngremes, em que a gente pode chegar ao esforço máximo e ficar exausto muito rapidamente. Talvez eu tenha de sair da cadeira e puxá-la nesses momentos... É nesses grandes desafios, cheios de incertezas, que se aprende mais. Hoje vejo meu acidente de uma forma muito positiva, por causa das poderosas experiências de vida. Fonte: http://www1.folha.uol.com.br |