Deficiente visual relata dificuldade de acessibilidade.



deficienti 6Em Chapecó uma estimativa da Associação de Deficientes Visuais do Oeste (Adevosc) calcula que mais de 1.000 pessoas tenham algum tipo de deficiência nos olhos.

Katiusca Tavares
A acessibilidade entrou em debate na sociedade somente nos últimos anos. Por décadas as pessoas com alguma deficiência ficaram privadas de encarar as ruas por não ter um local que comportasse suas necessidades. Hoje a Lei nº 7.853/89 e o Decreto nº 3.298/99 buscam cumprir a política nacional para integração da pessoa portadora de deficiência, criando normas de acessibilidade para deficientes.
Em Chapecó uma estimativa da Associação de Deficientes Visuais do Oeste (Adevosc) calcula que mais de 1.000 pessoas tenham algum tipo de deficiência nos olhos. Fora isso, outros tantos com alguma dificuldade de se locomover, tendo que utilizar bengalas ou cadeiras de rodas.
A equipe do Diário do Iguaçu convidou Lisiane Anschau, deficiente visual, para que percorresse algumas ruas do município e apontasse suas dificuldades. Após 20 minutos de caminhada diversos obstáculos foram encontrados, além de trechos críticos que não possuem orientação para quem possui alguma deficiência.
Sem saber que ônibus pegar
Segundo Lisiane, a maior dificuldade de um deficiente visual em Chapecó hoje são com alguns locais públicos. O Terminal Rodoviário não apresenta uma calçada adequada, além de ter elevações sem sinalização ou rampa. "Se um deficiente visual quer vir sozinho até a rodoviária comprar uma passagem ele não consegue", se queixa ela.
Além do piso da área interna ser uniforme, não há orientação por meio de um mapa tático em braile. Portanto, no momento que uma pessoa com deficiência visual chega até o terminal, se ela não estiver acompanhada terá de pedir ajuda para chegar até o guichê desejado.
Esse problema se repete ainda no Terminal Urbano, que não orienta os deficientes visuais na hora de escolher que ônibus pegar. "Ficamos ilhados nesses locais, pois sozinhos não conseguimos fazer nada", complementa.
O comércio precisa cooperar
A falta de conscientização de comerciantes também é uma realidade na maior cidade do Oeste. Com mercadorias expostas nas ruas, cadeiras de bares nas calçadas e toldos na altura dos olhos, os deficientes visuais não conseguem se sentir seguros nas principais ruas do município.
Lisiane conta que muitas vezes deixa de sair de casa por não ter confiança de andar nas ruas. Mesmo com sua bengala como auxilio, ela relata que são muitos problemas para serem enfrentados apenas com alguns passos. "Nunca cheguei a me machucar, mas já levei vários sustos com buracos no chão ou toldos de lojas que batiam na minha cabeça", recorda
Na idade da pedra
Segundo o secretário de Planejamento, Nemésio Rubens da Silva, ainda estamos vivendo na idade da pedra em alguns quesitos de acessibilidade. Apesar de grande parte das calçadas do centro estarem adequadas, alguns itens deixam a desejar.
A falta de mão de obra qualificada para executar obras de readequação é uma das principais causadoras desse retrocesso. Conforme Nemésio, não há pessoas adequadas para realizar muitos serviços. O mapa tático é um deles. Visível apenas em agencias bancárias, os demais locais públicos não sabem quem pode fazer a instalação.
Por enquanto as calçadas são o maior avanço realizado em Chapecó. Dados da secretaria de Planejamento informa que 25 mil metros são adequadas mensalmente no município. No centro todos os estabelecimentos já foram orientados para realizar a mudança, e os poucos que ainda não aderiram estão sendo notificados.
Esse, entretanto, é um trabalho lento para o secretário. "As pessoas não tem muita consciência da importância da acessibilidade", relata. Além disso, obras antigas ficam difíceis de serem reparadas, tendo em vista que sua construção ocorreu sem um planejamento e padronização.
A prefeitura tem buscado orientar quem deseja se adequar, o problema é que muitos resolvem fazer por conta própria, sem uma instrução capacitada. "Temos calçadas que são feitas fora do padrão. O ideal seria que cada quarteirão tivesse o mesmo tipo de piso, sem degraus e com nivelamento", complementa.
No Terminal Rodoviário Neomésio garante que com reforma haverá pontos de acessibilidade. Ele reconhece o problema mas afirma que não é simples readequar uma cidade inteira em poucos anos. "A acessibilidade só está sendo cobrada agora. Nós estamos na frente de muitas capitais, que mal tem ruas adequadas", relata.
Os valores
O preço para readequar uma calçada não é alto, segundo a secretaria de planejamento. Os benefícios que um comerciante terá a longo prazo ao cumprir as normas de acessibilidade não podem ser deixados de lado. "Além da calçada ficar mais bonita, as pessoas com alguma necessidade se sentirão mais a vontade em frequentar o estabelecimento, podendo aumentar o lucro do comerciante", garante.
O que conforta no momento é saber que o número de renotificações enviadas pela prefeitura diminuíram no último ano, o que indica que ao serem cobrados, os comerciantes estão atendendo as exigências. "Já melhoramos muito e a tendência é que se melhore mais", finaliza Neomésio.
A forma mais rápida de resolver esse problema continua sendo com a colaboração. Enquanto as pessoas com algum tipo de deficiência esperam por melhoras, cabe a sociedade fazer melhorias na medida do possível. O direito de ir e vir é garantido em constituição, não havendo diferença na velocidade dos passos dado por cada cidadão.

Fonte: Oestão